Além de buscar a transformação desse momento de tristeza e devastação em esperança na Mata Atlântica, marca o início da Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 declarada pela ONU
O Estado do Ceará perdeu mais de 9 mil cearenses para a Covid-19. Uma perda irrecuperável para os entes queridos que ficaram. Para que a memória dessas vidas continue presente nos territórios em que viveram, organizações ambientais se uniram para construir a campanha nacional: "Bosques da Memória: homenagem da Mata Atlântica às vítimas da Covid-19". A abertura foi realizada neste sábado, 12, em quatro pontos do Estado: Caucaia, Icapuí, Guaramiranga e Fortaleza.
Além de homenagear as vítimas da Covid-19 e profissionais da saúde, a iniciativa busca recuperar florestas, levando em consideração os incêndios que destruíram, principalmente, o Pantanal e a Mata Atlântica. Em Icapuí, a Fundação Brasil Cidadão lidera a iniciativa com a plantação de um bosque de mangue com 100 plantas, no manguezal da Barra Grande, na Praia de Requenguela. Segundo a Diretora Executiva da fundação, Leinad Carbognin, “ao mesmo tempo que a gente aplaca um pouco a dor de quem perdeu alguém, simbolizando a memória dela em uma planta que vai ficar ali eternamente, a gente também melhora a história do meio ambiente, recuperando os habitats degradados”.
Segundo o Biólogo, André Luiz Braga, que participou do plantio em Icapuí, a ideia é transformar esse momento de tristeza em um gesto de esperança, promovendo a conservação ambiental. Segundo ele, o manguezal é considerado como um dos berçários da vida marinha. "Então, quando acontece o plantio no mangue, aumenta-se a cobertura vegetal desse ecossistema e consequentemente aumentando a área verde. Gerando um aumento do pescado, do marisco, e isso impacta diretamente as comunidades costeiras que estão inseridas dentro dessa área de proteção, bem como as comunidades adjacentes que se utilizam desses espaços para sobreviverem”, explica.
Para Aparecida Alcântara, representante da Associação Caiçara de Promoção Humana de Icapuí, essa ação homenageia os que já partiram, mas também prepara o mundo para os que ainda virão. “São sementes plantadas que garantem mais qualidade de vida e a sustentabilidade do nosso planeta. O mangue é o berçário da vida marinha, desta forma muitas vidas serão salvas e o nosso meio ambiente mais protegido.
Nos outros três pontos, quem organiza as plantações é a Secretária Estadual do Meio Ambiente (Sema). Em maio desse ano, as três unidades de conservação receberam o título de Postos Avançados da Mata Atlântica. Para que uma área seja reconhecida como posto avançado, é necessário que os seus responsáveis desenvolvam pelo menos duas das três funções básicas determinadas pela Reserva: proteção da biodiversidade; desenvolvimento sustentável e conhecimento científico.
A campanha tem duração de 6 meses, então as pessoas que quiserem fazer sua homenagem, precisam se dirigir aos endereços das unidades de conservação. Nesses espaços existem responsáveis entregando as mudas e prestando apoio na hora do plantio. Famílias, indivíduos, ONGs, coletivos, empresas, governos e outras instituições podem manifestar seu interesse em realizar seu próprio bosque, sendo necessário que entrem em contato com Sema.
Sendo uma promoção conjunta da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA); da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, a iniciativa é desenvolvida de forma participativa e colaborativa e está aberta às pessoas e instituições interessadas, contando desde o início com várias entidades parceiras, entre as quais a Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar (Apoena) e a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD).
As lembranças de quem plantou saudade
“Como dizia o Papa João Paulo II, o mundo tem saudade de Francisco”, contou Frei Helder da Casa Paroquial de Guaramiranga, em alusão à Francisco de Assis, que defendia o meio-ambiente. Frei Helder estava homenageando duas figuras que marcaram a história na congregação e que foram importantes na sua caminhada espiritual: Frei Moisés e Frei Roberto. “Fazer essa homenagem foi um resgate da memória deles e do que eles representavam. Foi importante porque é uma memória viva, pois essas árvores vão crescer e serão eternizadas. Eles tiveram um grande papel aqui na localidade. Essas duas árvores manterão viva a memória e o modelo deles pelo amor à natureza”, explica.
Ivan Valentim perdeu seu pai, Francisco Valentim da Silva, no dia 25 de junho, também vítima de covid. Desde o começo da pandemia ele e sua mãe estavam isolados, devido a idade avançada dos dois. Mas um dia, Ivan foi surpreendido com uma ligação informando que os dois estavam gripados. “Os dois foram internados no mesmo dia e transferidos para o hospital Leonardo Da Vinci. Meu pai, que tinha várias comodidades, não resistiu. Decidi fazer essa homenagem não por acaso. O Sítio Batalha, onde fica localizado o bosque, foi o lugar onde moramos durante 31 anos, onde tenho lindas e felizes memórias dele. Onde cresci e ele envelheceu”, fala emocionado.
Onde encontrar os bosques da memória
Manguezal da Barra Grande, na Praia de Requenguela (Icapuí)
Parque Estadual do Cocó (Fortaleza)
Refúgio da Vida Silvestre (Revis) Periquito Cara-Suja (Guaramiranga)
Parque Estadual Botânico do Ceará (Caucaia)
Mais informações em: https://www.bosquesdamemoria.com/
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